Hernani Cardoso

Hernani Cardoso na sua trike. Fotografia de Hernani Cardoso

Ontem na Massa Critica de Aveiro tivemos a presença de alguém muito especial: Hernani Cardoso. http://hernanicardoso.com/. Mais que um cicloturista, ele é um viajante, viaja sobre três rodas. Um homem cheio de coragem que já correu meio mundo de bicicleta e prepara-se para fazer uma volta ao mundo, agendada para 2014. Tive o prazer de o acompanhar até Sever do Vouga. Escolhi um trilho moderadamente fácil, em estradão pelo Baixo Vouga lateralmente ao rio  Vouga e/ou pela linha do comboio do Vouga. Hernani ficou encantado com  a qualidade da paisagem, disse que se comparava a muitas paisagens da Austria por onde passou. E eu orgulhoso desta minha terra adoptiva. Em 3 horas em meia de viagem com Hernani percebi esta forma de viajar, Hernani tem a serenidade de observar tudo. Não é o destino que lhe interessa, nem a rapidez de alcançar, ele já atingiu outro estado, o do viajante que se perde na paisagem, que se perde nos pormenores, que procura o pulsar da terra, talvez por isso viaja bem próximo dela. Na conversa que fomos tendo contou-me coisas sobre as viagens, sobre a sua vida. Mostrou-me um sentido critico a determinadas ciclovias em Portugal, cheia de sinais de informação que na verdade não informam nada e da qual a ecopista de Sever do Vouga é um exemplo: a quantidade de sinais a informar que estamos numa ecopista é ridículo, mas não vimos nenhum (bastava uma tábua) a indicar a ecopista e para onde vai. Hernani é daquelas raras pessoas que não têm medo de estar com elas, por isso escolhe esta forma de viajar. Estarei com ele e um dia vou-me encher de coragem e irei fazer uma volta ao mundo assim. Percurso feito aqui. Mais fotos de Hernani Cardoso em Aveiro aqui.

Massa Critica de Aveiro “poucos mas bons” na voz de Hernani. Fotografia de Hernani Cardoso.

Em Aveiro com a Massa Critica. Fotografia de Jorge Pinto.

Eu andar na trike de Hernani Cardoso. Fotografia de Hernani Cardoso

AVEIRO E O PROJECTO PARA A AVENIDA, OU “A AVENIDA AMARRADA EM SI” (ARTIGO DE OPINIÃO DE RICARDO VIEIRA DE MELO)

Aveiro e o Projecto para a Avenida, ou
“A Avenida amarrada em si”.
(comentário à proposta apresentada)

Depois de mais de dois anos de discussão à volta da necessidade de requalificar a Avenida Dr. Lourenço Peixinho em Aveiro, a Câmara Municipal apresentou a proposta desenvolvida pela equipa designada pela autarquia. Pelo seu significado na cidade e pela sua importância urbana, o projecto merece ser “desmontado”.
Quando Lourenço Peixinho imaginou a Avenida Central para ligar o novíssimo Caminho-de-ferro com a cidade, imaginou-a ligada ao futuro, imaginou-a ligada ao exterior, moderna e fluida, com um perfil largo capaz de atrair novos habitantes, comércio e vida.
Aveiro viveu bem com o perfil romântico da avenida, durante quase 100 anos. Mas a cidade cresceu, e a placa central já por demais “roída” não serve nem peões nem automóveis, desperdiçando espaço.
Num tempo em que as relações “em rede” estão mais presentes que nunca, a avenida quer continuar a fazer parte da contemporaneidade. A qualificação urbana só faz sentido se mantendo as qualidades do espaço onde se intervém, ainda se promovam outras. A avenida Dr. Lourenço Peixinho foi desenhada como corredor de ligação, primeiro com a cidade tradicional, mais recentemente com cidade contemporânea, dispersa a sudeste. Ambas construíram Aveiro.
É necessário que a avenida continue a ser um espaço de confluência, onde os usos “colidam” entre si para gerarem mais histórias e experiências. E que ela se torne um grande íman gerador de tensões produzindo mais vida urbana.
A proposta que foi apresentada prevê uma avenida rematada por duas “praças” tampão e um corredor rodoviário central, com uma faixa de rodagem em cada sentido. Propõe que a entrada na avenida apenas se possa fazer lateralmente e que os topos nascente e poente deixem de a ligar à cidade. Propõe aos futuros utilizadores um verdadeiro exercício de adivinhação: a nascente, o túnel rodoviário por baixo da estação deixará de dar entrada para a avenida e conduz a um parque de estacionamento enterrado do qual se sai pelo mesmo túnel. As “Pontes” deixam de dar acesso ao lado poente da avenida. Essa será uma avenida transformada em largo… Opções a fazer lembrar outros exercícios de inversão urbana, como foram os casos de Lisboa nos anos 80, quando a equipa do então presidente Engº Nuno Abecassis se lembrou de inventar “contra-sentidos” nas avenidas novas, gerando o caos, ou ainda quando se tentou transformar a Rua do Carmo numa grande esplanada…erros que a história das cidades se encarrega de corrigir, mas por vezes a preços demasiadamente elevados!
No desenho urbano, à forma corresponde um nome. Uma avenida não é um largo, uma rua não é uma praça, uma alameda não é um beco!
O que se apresenta seria a subversão da cidade enquanto estrutura construída.
Um projecto assim rígido seria contrário à cidade contemporânea flexível, miscigenada de usos e fluxos. Com a intensificação da mobilidade os lugares ganham múltiplas escalas, e isso é bom! Imaginar a avenida desligada, é esquecer que Aveiro vai muito para lá dela. E essa opção é contrária ao desígnio urbano: juntar para libertar. Com liberdade e segurança podemos ter conexão e igualdade. A avenida assim proposta tornaria a cidade injusta porque se isolaria, tornando-se exclusiva dos seus moradores rejeitando a cidade distante. Um enorme desperdício!
Pedonalizar da forma como o estudo o prevê (reduzindo o perfil rodoviário a uma faixa em cada sentido) significaria tornar mais difícil a vida de quem quotidianamente a utiliza para habitar ou trabalhar. A avenida não é só dos seus comerciantes ou moradores, também não se destina apenas aos turistas que procuram as suas esplanadas. Nenhuma rua, nenhuma avenida é só do seu bairro…
Seria muito mau formatar uma avenida contra a cidade, contra o plural e o colectivo. A cidade é sinónima de convivência, de tudo e de todos. Ninguém pode acreditar que seja possível substituir a Avenida por um anel de oito quilómetros de comprimento e dez rotundas que só funcionará apenas num sentido, porque o futuro nó da A25, junto à “Vitasal” apenas permitirá a saída da auto-estrada.
Lisboa não fechou a Avenida da República quando abriu o eixo norte/sul, o Porto não encerrou a Avenida da Boavista quando inaugurou a VCI, Braga não bloqueou a Avenida da Liberdade quando construiu a sua circular. E é de bloqueio que se trata a proposta apresentada, desenhando a avenida como um lugar de exclusão, com fronteiras intransponíveis a nascente e poente.
O modelo de crescimento de Aveiro assentou na auto-mobilização dos seus munícipes que se viram forçados a procurar a periferia da cidade. Com a dificuldade dos transportes públicos em conviverem com essa cidade dispersa, a condição periférica seria ainda mais penalizada afastando mais o centro. A acessibilidade da Avenida é parte da sua sustentabilidade! Não há Avenida se não se puder entrar nela! Restringir o uso da avenida desse modo pode significar a sua asfixia. A cidade deve viver como um todo, integrado. A Avenida foi desenhada para unir e não para separar. Resolver a Avenida com este modelo viário significaria transformar a Avenida numa fronteira que dividiria a cidade em dois (o norte e o sul)

Nenhum Aveirense quer a avenida como está, mas duvido que a queiram do avesso! A avenida não necessita de transformações violentas que a isolem, antes precisa de medidas mais amigáveis e sustentáveis que promovam a sua procura: diminuir a contribuição autárquica na área central da cidade, promover a flexibilização dos horários comerciais, aumentar os passeios retirando a faixa central e repondo arborização frondosa, seriam verdadeiras soluções: rápidas, eficazes e económicas. Custariam uma pequena fração do que propõe a equipa encontrada para o projecto.
E é de sustentabilidade que se trata, sustentabilidade financeira e sustentabilidade urbana. Mas ambas parecem estar fora das preocupações da actual Câmara quando promove e suporta um projecto desenvolvido em direcção oposta.

Ricardo Vieira de Melo,
Arquitecto, Professor Universitário

Encontra o teu trilho, liberta a tua alma.

Ler é como andar de bicicleta, não poderá haver melhor analogia! Podemos seguir um trilho fácil, quase estrada sem grandes subidas, há muitos trilhos assim! Mas também necessitamos de fazer subidas íngremes, cheias de pedras, troncos, lama e descidas vertiginosas com regos de água, com pedras e muita areia, um trilho tipo “Crime e castigo” de Dostoyevsky , podemos atravessar o trilho com maior ou menor velocidade, podemos, por vezes cair nele, podemos, por vezes, pensar “porque me meti neste trilho?”, podemos até mudar de trilho a meio do percurso. O que interessa é encontrar o melhor trilho para chegar ao um “lugar”, não um lugar físico, esse pouco interessa, é mais que uma conquista, chegar a um desconhecido, um “lugar” inexistente no mapa e no GPS. Ainda me falta trilhar muitos caminhos, ainda me falta chegar a muitos “lugares”.

A falar nisso, hoje ainda não li nenhuma página, hoje ainda não calquei nenhum quilómetro!

A minha geografia

Há cerca de um ano atrás comecei andar de bicicleta saindo da zona urbana de Aveiro. Comecei por explorar a zona do Baixo Vouga num labirinto de estradões que passam por Cacia, Angeja, Tabueira, São João de Loure e Eixo. Foi uma aventura solitária mas que me deu vontade de continuar. Aos poucos comecei a ter um amigo que me acompanhava, mas nem sempre e quando a curiosidade de encontrar outros lugares me obrigava a pedalar mais umas boas dezenas de quilómetros tive que me juntar a outros companheiros de passeios que praticam todo o terreno (BTT). Claro que para mim foi difícil. Porque tive que comprar uma bicicleta para os poder acompanhar, depois, porque tive que aprender a fazer BTT, algumas quedas aconteceram (principalmente quando coloquei os pedais de encaixe), e ainda, de conseguir mais ou menos acompanhar este pessoal que sobe e desce montes com uma destreza fantástica. Começou o deslumbramento. Aveiro (distrito) é um território imenso cheio de locais fantásticos, alguns tenho aqui as fotografias (porque alguém as tirou), outras guardo dentro da memória. A minha percepção geográfica da região alterou-se por completo, deixou de ser percepcionado através das estradas principais, mas comecei a perceber melhor as altimetria da região, os pontos de água, os trilhos e caminhos. Todos os fins de semana encontro mais uma paraíso mesmo aqui a dois palmos. Anseio pelo próximo fim de semana, para mais uma descoberta, mais um recanto, mais uma linha de água, mais um local de vegetação esplendida ou uma paisagem formidável. Na verdade viajo todos os fins de semana. Por vezes custa, são muitos e difíceis kms para chegar a um destes paraísos, mas a sensação de chegar lá, depois de calcar trilhos quase impossíveis, é  indescritível. Outra das vantagens é termos companheiros de viagem formidáveis, alguns já com muitos kms batidos, outros, como eu a começar. Já tenho uma intuição de olhar e perceber com quem estou, se é iniciado ou não, basta um olhar para se ver se está calejado no rolar na terra.

Alfusqueiro neste fim de semana

As 3 cascatas em Sever do Vouga

Nas cascata de Silva Escura, numa volta muito difícil para mim (depois de uma semana a ter feito 300 kms) com Rui Campos (grande companheiro do geotrilhos) , Ivo, Henrique e Nuno (do Viver Vilar BTT) e Eduardo (vizinho).

Em Requeixo

Em Ois da Ribeira – vista sobre a Pateira em 29 de Fevereiro de 2012

Na prova de BTT de Penacova onde fiquei a meio da tabela

Pelos trilhos de Albergaria com a malta do Geotrilhos (por trás um moinho de água)

Na capela de Nossa Senhora do Socorro

A grande epopeia (para mim) de 170 km pela antiga linha de comboio do Vouga de Aveiro a Viseu e depois pela antiga linha do Dão até Santa Comba Dão.

Ria Agueda entre Requeixo e Ois da Ribeira

Espinhel – Pateira

Alguns dos meus companheiros de bicicleta

Volta de natal do Geotrilhos – no fundo a Pateira perto da Igreja de Requeixo

Com o Kemp e Fausto no cimo do Buçaco

Zona da perto da Bio Ria em Estarreja

Com o Daniel e Paulo Gonçalvos em Estarreja

Assalto ao Caramulo dia 1 de Dezembro – mais de mil participantes num passeio que há todos os anos

Caramulo 2011

Ida à Serra do Ladário com um grupo de malta que não conhecia de lado nenhum mas que, alguns, se tornaram bons amigos (Rui Campos, Fausto Neto e Luís Azevedo)

Não ponho lá os pés…

A propósito do que aconteceu nos supermercados pingo doce no dia 1 de Maio.

Imaginem um senhor gordo, balofo e rico que vive numa região pobre que todos os dias é rodeado de crianças pobres a pedir esmola. Um dia de feriado, em que não há escola, em vez de serem 10 crianças a pedir esmola são 100 crianças. O sr. gordo, que é muito caridoso e nesse dia está muito bem disposto, resolve dar 10 moedas às crianças, então atira ao ar para o conjunto das crianças as 10 moedas. As 100 crianças lutaram pelas 10 moedas, no final havia muitos feridos e um desespero em muitas das crianças que não tiveram direito à moeda. Foi o que aconteceu com o pingo doce no dia 1 de maio. Toda a gente percebe que o Sr. Gordo é o Jerónimo Martins e que as crianças somos nós, que corremos ao pingo doce à busca da esmola. Eu nos próximos tempos não vou colocar o pé no pingo doce, pelo menos enquanto eles não colocarem todos os produtos a 50%. Se podem fazer isso um dia, podem fazer isso sempre. Ou seja exijo que o Sr. Gordo envie as 100 moedas para as 100 crianças.