Ceia com Calor

As Flourinhas do Vouga, além de muitos projectos sociais, tem o “Ceia com calor”. Eu e a minha colega Ana Castro Silva, no âmbito do Jornal de escola, acompanhamos uma dessas equipas de voluntários que dão diariamente comida aos sem abrigo. Uma refeição ligeira porque existe também um projecto “Roda dos Alimentos (Cozinha Social)” onde os sem abrigo podem almoçar e jantar. A experiência foi importante e são muitos os que passam pela carrinha para comer um bolo e um pouco de café. Existem muitas histórias por contar. Vão lá também para um pouco de conversa e compreensão. Os voluntários que fazem este serviço são os meus heróis. A noite estava fria, mas saímos de lá com o coração mais quente.

Comentário de Isabel Ribeiro

Transcrevo aqui o comentário da Minha Colega e amiga Isabel Ribeiro porque por ser amarelo e oportuno para este blogue: “Estou a ficar confusa, mesmo muito baralhada. E desta feita, tenho a certeza que é da idade, dos conhecimentos que tenho adquirido, porque a eles estou aberta e dos comportamentos que tenho observado, porque a eles estou atenta e preocupada…
Qualquer pai/mãe, conscientes do seu papel de educadores, terão o bom senso de dizer “não” às suas crias, quando essa for a solução que entendam por mais correcta na educação das mesmas.
Sou mãe de uma filha com 32 anos. Tarefa árdua, a de educar, muito particularmente, se se tem de dizer “não”. Foi necessário fazê-lo algumas vezes e não me arrependi de nenhuma, por mais que me doesse o coração no momento. O mesmo aconteceu com o pai. Ainda bem que não banimos a tal palavrinha incómoda.
Acontece que observo nas crianças e jovens que chegam à escola que o “não” é para ser usado por eles e a seu belo prazer… Desconhecem a palavra, seu significado, sua força. O “não” de um professor é desprezado, ignorado, ridicularizado.
Chegam-nos, com frequência, relatórios de psicólogos que nada acrescentam ao que já observámos, nós os professores, que trabalhamos com os alunos num contexto de trabalho real, autêntico e natural, dia após dia, mês após mês – na sala de aula, em contexto turma, temos uma visão mais alargada das problemáticas que os jovens possam apresentar. Não me queiram convencer de que observar um aluno isoladamente do grupo num gabinete é o mesmo. Não é. De todo. Constam muitas vezes nesses relatórios directrizes para os professores, referências ao trabalho a fazer na aula, etc, etc.
Será que estes psicólogos estão na posse de um curso vocacionado para o ensino, que lhes permite tanta segurança nas opiniões emitidas? Será que têm uma pequena ideia dos conteúdos a trabalhar, da metodologia a seguir e das estratégias a utilizar nas diferentes áreas? Será que sabem o que é trabalhar com turmas de 26 alunos que apresentam uma enorme heterogeneidade? Será…? Ou será… “um tiro no escuro”?
Sem dúvida, que a Psicologia está a mudar em Portugal, ao sabor das mudanças preconizadas por outros estudiosos da área no estrangeiro. Ordem natural das coisas, a que já tão habituados estamos. E tem mesmo de mudar, porque a sociedade está em constante estado de convulsão e de mutação, a um ritmo alucinante. Urge a mudança de mentalidades, incluindo a dos pais, dos alunos, dos psicólogos e dos professores, dos políticos…De todos.” Isabel Ribeiro

Mantêm-te manipulável

Hoje num super mercado uma criancinha berrava aos pais “eu quero gelatina”, os pais disseram um não enfraquecido, então a criança gritou ainda mais alto e os pais, para não passarem vergonha, lá deram a gelatina a pobre criancinha que sofria por não ter gelatina. Gelatina é barata, mas quando a pobre criancinha quiser uns sapatos da nike, um carro ou um apartamento na Boavista, os pais vão dar, mesmo que tenham que fazer algum grande sacrifício, porque a criancinha assim deseja. E dizem os psicólogos que não podemos contrariar os desejos das criancinhas. Acredito piamente que se nós ouvirmos demasiado o que os psicólogos acabamos numa cama num hospital psiquiátrico. As crianças, os adolescentes têm que aprender a compreender os seus desejos, qual a sua fonte, quais os desejos que realmente valem a pena, saber optar entre um desejo e outro para realmente se sentirem felizes. Na “Era do Vazio” Gilles Lipovetsky esclarece-nos que estamos embutidos num ambiente de economia liberal e que muitas das nossas ideias, a nossa forma de estar, os nossos desejos são fruto dessa cultura, de uma manipulação para nos venderem coisas.

Quando realmente somos originais? Qual destes meninos são realmente originais? Que bom sermos irreverentes, mas será que somos mesmo irreverentes? Ou somos mesmo um produto publicitário de irreverência? Uma norma de irreverência? Além de mais se fossemos irreverentes não bebíamos Sumol, nem coca-cola. Talvez bebíamos água do poço.

Alice

O filme Alice de Tim Burton é fantástico. Re-escrito tendo como base a história de “Alice no Pais das Maravilhas” de Lewis Carroll. Fomos ver depois de termos passado uma manhã a limpar Portugal. O pior foi o barulho das pessoas a comer pipocas e no final, a sala estava numa lástima. Houve quem atendesse telefones durante o cinema e quem passou o tempo a conversar. O que podemos fazer para que as pessoas se respeitem mais umas às outras?

Limpar Portugal

No sábado de manhã, graças à minha filha que faz parte do clube eco-escolas, fomos participar nesta iniciativa.Debaixo de uma ponte perto da Escola se São Bernardo, um monte de entulho esperava pa nossa passagem. Depois do entulho continuamos por um caminho onde encontramos centenas de garrafas de cerveja, desconfiamos que essas cervejas possam vir de alguns dos alunos da escola que vão comprar-las ao jumbo (que fica a caminho) e depois se escondem por ali a beber. Demos uma volta pela escola e demos conta de mais uma situação, muito lixo que alguns alunos fazem, quando de manhã vem com os pais de carro e tomam à pressa o seu pequeno almoço. Imagino que os pais digam aos filhos “não me sujes o carro” e a criança deita o lixo pela janela com a permissão do pai. Digo isto porque o local que tinha mais lixo era exactamente aquele que os alunos só o fazem de carro com os pais.

Ovo da Páscoa


Este ano, com o 6ºE, fizemos um ovo da Páscoa. Um ovo reutilizado, que é para ser mais ecológico. Primeiro a turma aprendeu a fazer um óvulo, depois eu mostrei a minha maqueta do ovo e os alunos disseram “não conseguimos fazer isso”, então eu desmontei tudo e ele viram que era tudo muito simples e que talvez conseguissem. Fizemos cálculos, estipulamos relações e fizemos todos um ovo pequeno de avestruz. Depois, os que acabavam primeiro, iam ajudando na construção de um ovo de dinossauro, o Ovo do “Dinossauro Excelentíssimo” evocando o José Cardoso Pires. Acho que os meus alunos estão convencidos que conseguem tudo, ir até ao infinito ou “puxar o infinito para si” como diz o Grande Poeta José Fanha. Claro que conseguimos fazer isto porque a turma é muito interessada e participativa.




Poesia à mesa

Acontece todos os anos por esta data, um fim de semana onde se convocam poetas e declamadores, um fim de semana de poesia. O Fanha é o cicerone, o pivot. A população participa. Fui na sexta à noite assistir à peregrinação poética que ficou-se na zona da feira do livro, porque as condições metrológicas não deixaram. A ideia era irem declamar pelos bares da cidade.

O município São João da Madeira está de parabéns mais uma vez por estimular a população para as artes. Nós aqui temos um estádio de futebol vazio e pouco mais (Aveiro).

Hiroshima Meu Amor


Um livro de Marguerite Duras que serviu de argumento para um filme de Alain Resnais. Trata-se de uma história de amor que interage com uma história de ódio e destruição. Uma mulher, actriz que participa num filme sobre a bomba de Hiroshima, tem um caso amoroso com um Japonês. São várias as memórias que se vão revelando, a história do horror da bomba atómica, a história daquela mulher e de uma história de amor passada entre ela e um soldado nazi, numa cidade francesa que a leva à loucura e um desligar com o passado.

O que me encanta em Maguerite Duras é o erotismo liberto e uma procura pelo amor aberto. Uma libertinagem adorável. Na escrita existe um silêncio, um tempo próprio e uma redundância muito expressiva, mas ao mesmo tempo minimalista.

Requiem para D. Quixote – Dennis McShade


“Oh, esses passeios no campo dentro de ti (meu velho, passeias sempre dentro de ti e ainda não conheces todos os recantos, os vales e as montanhas que te habitam, as cascatas súbitas com que te deslumbras, mas logo a aridez de um chão enorme onde nada pode nascer) estava eu falando nestes passeios ao campo dentro de ti, com comboios apitando nos teus ouvidos de criança, debruçares-te para apanhar uma flor e a arma aparecer-te na mão, a arma já é a mão, os dedos são balas, há um frio de aço nas articulações, o assassino triste e romântico e etecetera, terá havido realmente uma razão muito forte, uma boa razão, ou simplesmente uma razão para o facto de a tua mãe não te ter dado à luz já morto?” Dennis McShade
Estes policiais de Dinis Machado sobre o heterónimo de Dennis McShade são assombrantes e deliciosos, lêem-se numa jorrada com imenso prazer. Maynard é assassino profissional que tem uma ética, independente e só mata se houver fortes razões para tal. Gosta de literatura e de música, dos clássicos. Este livro é um convite a outras leituras e o seu final é surpreendente.